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A Pracinha

A reconstrução da praça, um sonho dos moradores para as crianças brincarem e se divertirem, saiu do imaginário coletivo e se tornou realidade com o puxirum (mutirão) entre os jovens do Movimento reFloresta e a comunidade. Um espaço de risadas, troca, e convivência. Entenda abaixo o processo do projeto. 

História

A comunidade de Anã sempre foi um lugar com um número expressivo de jovens, os quais buscavam, seja na mata ou no rio, espaços de criatividade, encontros e brincadeiras (acha, pei-pei, mata no meio, sete pecados, taco, pira, futebol e bandeirinha). Com isso em perspectiva, em 2007 a primeira turma do Ensino Médio da comunidade decidiu construir uma praça comunitária com a ideia de ter um local apropriado para as crianças de Anã brincarem e, além disso, para a prática de outras atividades como teatro, oficinas de arte e diferentes encontros. 

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Após a construção, o local foi muito frequentado e virou um ponto de referência da comunidade, as pessoas iam passear, as crianças brincavam e o espaço foi ganhando muito significado não só pela utilidade, mas também pela forma com que foi feito, sendo uma ideia dos jovens para os jovens e tendo como marca o uso de materiais simples para a construção dos brinquedos, já que gangorras, balanços e escorregadores eram feitos principalmente de madeira e pneus.

 

“Eu estava na construção da primeira praça comunitária, que foi um projeto da professora Shayla com professor Leon,  lembro que a comunidade abraçou a ideia, e como nunca, eu vi o povo anaense numa coletividade admirável. A gente acordava cedo para ir buscar madeira e trazer para o local onde ia ser construído. Minha felicidade era ver meus filhos brincando lá, até nós mais velhos fazíamos times e jogávamos torneios lá - era muito divertido, todo mundo ia para assistir. É triste ver que teve um descuido com a praça, meu neto não teve mais a oportunidade de brincar lá, como a mãe dele teve. E a comunidade se dispersou, não tem mais aquele local onde todo mundo se encontrava para conversar. Eu acredito que aquele espaço fortalecia a união dos comunitários.” 

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Antônio Cardoso, 53 anos, comunidade de Anã.

No entanto, infelizmente os materiais utilizados foram se desgastando com o tempo, e não existiu manutenção para os brinquedos e nem para o espaço, o que fez com que o lugar fosse desaparecendo pouco a pouco até chegar na realidade de hoje, apenas com os restos e marcas que sobraram, mas que ainda recebem novas crianças todos os dias brincando no vazio da antiga pracinha, com muitas memórias, mas sem brinquedos, oficinas ou atividades a serem realizadas.

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“Eu ainda cheguei a brincar na praça, ela já estava bastante destruída, mas ainda dava para brincar em algumas coisas. Eu e meus colegas quando saímos da escola, íamos direto para a praça jogar bola e vôlei, a gente jogava até anoitecer, depois descíamos para o rio para brincar de pira. Eu gostava de ir lá, ficava bem em frente a minha casa, e era uma opção para eu não ficar apenas dentro de casa. Mesmo com a situação que estava, eu ainda vivi momentos que marcaram muito minha vida até hoje.” 

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Kezia Amorim, 25 anos, comunidade de Anã.

 

“Eu tive pouco acesso a praça inteira, mas mesmo assim eu gostava de ir lá brincar, eu lembro que muitos brinquedos já tinham caído, e os que ainda estavam, colocavam muitos de nós em risco, eu inclusive peguei alguns acidentes. Mas para mim era importante porque eu encontrava meus amigos, passava um tempo brincando, e nem reclamava de nada, porque só pelo fato de estar ali naqueles restos de brinquedos me fazia feliz”. 

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Milena Godinho, 19 anos.

Significado

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A primeira praça de Anã foi um momento muito importante para os alunos e comunitários que ajudaram a construí-la. Na inauguração, os professores que organizaram o projeto entregaram certificados para os participantes - o primeiro certificado da vida da maioria de todos ali. Esse reconhecimento trouxe validação para o trabalho coletivo dos comunitários. Muitos pais que trabalharam na construção falam até hoje do sentimento de que o esforço doado para a construção da praça era em prol de um lugar seguro para seus filhos brincarem, se conectarem e crescerem com um sentimento de pertencimento a Anã, já que é no momento da infância quando os jovens mais se desenvolvem como seres humanos e aprendem diversos valores importantes para a própria comunidade.

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O Andamento

O espaço para a praça ainda existe, em uma área com uma paisagem maravilhosa logo na parte da frente da comunidade, ao lado da igreja e às margens do rio Arapiuns. A ideia da reconstrução sempre existiu, mas não tinha impulso para fluir e ser vista como prioridade, o que dificultava a continuação do levantamento. A partir da terceira jornada do Movimento reFloresta e a oficina do futuro, foi imaginado junto com os comunitários um projeto de uma nova praça no mesmo lugar da anterior e muitos dos que ajudaram a construir a primeira estão apoiando essa ideia.

A construção da pracinha

O sonho tomando forma

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O puxirum, também conhecido como mutirão, foi um trabalho de um dia inteiro. O projeto foi encabeçado pelo Seu Danilo, um dos líderes comunitários, conhecido também como multiartesão, marceneiro, roceiro e dono de um dos maiores corações de Anã. Ele foi convidado a dar corpo para o projeto e logo entrou de cabeça. Junto ao Movimento reFloresta, arquitetaram a pracinha, e Seu Danilo retirou da mata a madeira nativa, dando lugar a um roçado que depois seria utilizado pelos comunitários. 

 

Seu Danilo também foi responsável por projetar as partes de madeira, que, ao serem somadas, dariam vida a um parquinho cheio de brinquedos, balanços, escorregador e sombra para adultos e crianças aproveitarem. 
 

No dia do puxirum, os voluntários do reFloresta e outros comunitários, sob guia de Seu Danilo, foram juntando e martelando peça por peça, com a planta do projeto e o manual de instruções existindo unicamente no cérebro de seu Danilo. 


O parquinho foi subindo pouco a pouco, com muito suor e pregos entortados.  Junto ao trabalho dos reFlorestas, as crianças foram ajudando a construir seu próprio sonho. Suas risadas funcionavam como combustível para nutrir a força dos voluntários e comunitários, a construção virando em si uma grande brincadeira. 
 

A ajuda veio por todos os lados: jovens da comunidade participando de outras etapas, comunitários trazendo lanches e água para os intervalos. E a cada brinquedo finalizado, uma enxurrada de crianças corriam em sua direção para inaugurá-lo. O puxirum foi uma experiência de muita troca, sorrisos compartilhados e conhecimentos tradicionais ensinados com o bom humor anaense. Do trançar da palha ao cavar do buraco da fundição, a construção do parquinho foi um tremendo sucesso entre o esforço humano coletivo, a diversão e a grandiosidade que só se encontra no começo do Arapiuns.

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O resultado 

A pracinha já instada em Anã trouxe vida para a comunidade, os comunitários agora têm um lugar próprio para se divertirem do jeito que sempre sonharam, as crianças ganharam um novo lar, um lar que foi construído com muito amor e hoje transborda de boas risadas e muita diversão. A pracinha por estar instalada em um lugar muito ventilado e com bastante sombras, também estar servindo de espaço para encontros e reuniões ao ar livre.

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